Débora vai a guerra!! Parte III


III – A BIOGRAFIA DE DÉBORA(II) – O CHAMADO PARA A BATALHA E O CÂNTICO DA VITÓRIA

- Tanto assim é que Débora, embora fosse juíza em Israel, chamou a Baraque, filho de Abinoão, de Quedes de Naftali, para que comandasse o povo de Israel na guerra contra Jabim. Por que Deus mandou que Débora chamasse Baraque, se era ela a profetisa e a juíza em Israel? Porque o comando militar não era adequado nem apropriado para uma mulher como Débora, já de certa idade e cuja condição de mulher não lhe permitia dirigir uma guerra. Temos aqui, portanto, uma clara demonstração que contesta tanto as “feministas” como os “machistas”.

- Como é bom quando somos guiados por Deus, o único ser que conhece a estrutura de cada um (Sl.103:14), o único que conhece o coração de cada ser humano (I Sm.16:7; Jo.2:25). Débora, por ser guiada pelo Espírito de Deus, pôde saber quem era o homem mais valoroso, mais adequado para liderar a guerra contra Jabim, cujo exército, diz-nos o texto sagrado, era extremamente bem equipado, com carros de ferro, que o fazia praticamente imbatível naquele tempo. Débora, vivendo nos montes de Efraim, não tinha, a não ser pelo Espírito de Deus, saber que um homem de Quedes de Naftali seria o ideal para o comando da peleja, mas Deus, que cuida do Seu povo e sabe as qualidades de cada um, pôde fazer esta indicação.

- Débora não queria ir à batalha. Sabia que não tinha condição nem preparo para liderar uma guerra. Por isso, sabendo que esta era uma típica função masculina, guiada pelo Espírito de Deus, chamou a Baraque, que foi tão somente o comandante do exército de Israel e não juiz, como alguns israelitas “machistas” insistem em afirmar ao escreverem a história sagrada.

- Débora convoca Baraque e diz que ele deveria atrair gente de Naftali e de Zebulom, dez mil homens, no monte Tabor, para a batalha contra as tropas de Sísera, a ser travada no ribeiro de Quisom. Em primeiro lugar, devemos observar que se exigiu de Baraque que “atraísse gente”, a sua própria gente, a gente da tribo de Naftali, bem como a tribo vizinha de Zebulom. Deveria ser uma forte atração, pois estes dez mil homens deveriam ser reunidos no monte Tabor, “…uma colina de certa proeminência, localizada cerca de 16 km a sudoeste do mar da Galiléia, no vale de Jezreel. Chega a 562m de altitude, acima do nível do mar. Suas vertentes são muito inclinadas, e em vários lugares da ascensão, divisam-se paisagens espetaculares.…” (Russell Norman Champlin, Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia(São Paulo: Hagnos, 2001), v.4, p.353).

- Esperava-se de Baraque, portanto, que tivesse grande “poder de atração” , pois deveria convencer cerca de dez mil homens, num período de uma cruel opressão, com inimigos muito bem armados, a subir um monte, cuja subida era difícil, aos olhos do adversário, ou seja, que houvesse uma disposição firme para lutar, pois só a reunião já seria considerado um ato de guerra por Jabim e Sísera (cfr. Jz.4:12,13). Esta disposição firme era a coragem, não só de Baraque, mas de todos os soldados que viessem a ele.

- É interessante observar que, para demonstrar coragem, o povo deveria subir até o monte Tabor (que, pela tradição, é apontado como tendo sido o monte da Transfiguração), ou seja, mostrar-se a todos como pessoas dispostas a lutar contra o inimigo. Temos tido este mesmo propósito em nossas vidas? Jesus disse que somos a luz do mundo e não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte (Mt.5:14). Neste mundo, devemos resplandecer como astros no mundo num meio de uma geração corrompida e perversa (Fp.2:15).

- Exigia-se, pois, de Baraque e de todos os que se juntassem a ele a mesma postura que Débora tinha tido até ali. Por ser fiel a Deus e não ter se contaminado com o pecado dos povos à sua volta, Débora tinha se tornado uma profetisa e juíza em Israel e, agora, como o povo havia se arrependido dos seus pecados e clamado a Deus, fazia-se necessário que, também, fossem eles corajosos o suficiente para romper com o pecado e “subir o monte Tabor”, demonstrar disposição firme de romper com o pecado, com o mundo, com o inimigo.

- Baraque estava disposto a fazê-lo, mas disse que se Débora não fosse com ela, não iria (Jz.4:8). Aqui vemos um outro motivo pelo qual Débora estava a julgar a Israel naquele tempo. Não havia homem algum disposto a assumir, sozinho, o comando para libertar Israel. Baraque fora escolhido por Deus como comandante porque era o indivíduo mais corajoso, o mais valoroso de todos os homens de Israel. Se ele não se mostrava a disposto a ir sozinho, sem a companhia de Débora, temos que nenhum homem, naquele tempo, tinha tal disposição. Todos os homens eram “frouxos” e, como nos ensina Salomão, “se te mostrares frouxo no dia da angústia, a tua força será pequena” (Pv.24:10).

- A ascensão de Débora à posição de juíza em Israel está relacionada com a “frouxidão”, a “fraqueza”, a “vacilação” dos homens de seu tempo. O homem mais valoroso, que era Baraque, era “fraco”, estava “vacilante”, não demonstrava “firmeza”, mesmo tendo sido convocado pela profetisa, por alguém que tinha plena comunhão com Deus. Como não havia homens dispostos a ser firmes na Sua presença, Deus levantou u’a mulher para este papel.

OBS: A palavra hebraica utilizada em Pv.24:10 é “raphah”, cujo significado é “relaxar”, “enfraquecer”, “sucumbir”, ou seja, a idéia nitidamente é de enfraquecimento, de perda de firmeza, de falta de coragem.

- Débora fora levantada como “mãe em Israel” porque não havia homem algum disposto a ser corajoso, porque faltavam homens firmes e Deus não Se prende ao homem e às suas limitações para cumprir os Seus compromissos. Deus tinha um pacto com Israel e, por isso, mister se fazia levantar um libertador para o povo. Como não havia homem disposto, Deus levantou u’a mulher.

- Originariamente, o homem foi posto como cabeça da mulher (I Co.11:3), mas se ninguém se puser na brecha (Ez.22:30), Deus levantará mulheres, pois a Sua obra tem de ser realizada. Isto ocorreu não só na história de Israel, como na história da Igreja, onde, por diversas vezes, o Senhor, ante a inoperância masculina, levantou mulheres para exercer funções que, a princípio, eram destinadas aos homens. Assim é que, por exemplo, o “movimento de santidade”, base do avivamento pentecostal, teve como figuras proeminentes as pessoas de Sarah Worrall Lankford , Phoebe Palmer (1807-1874) e de Hannah Whitall Smith (1832-1911), sem falar na figura importante de Frida Vingren (1891-1940), esposa do missionário Gunnar Vingren e cuja atuação foi de extrema relevância na história das Assembléias de Deus no Brasil.

- O compromisso de Deus é com o Seu povo e a Sua Palavra e, para tanto, busca homens e mulheres dispostos a fazer a Sua obra. Se os homens se mostrarem “frouxos”, o Senhor levantará mulheres, ainda que em funções que, a princípio, seriam destinadas aos homens. Débora é um exemplo e, por isso, foi ela para a batalha, embora o comando estivesse com Baraque e, também por causa disso, u’a mulher, Jael, foi a responsável pela morte de Sísera e, por isso, a honra por esta vitória militar ficou com as mulheres e não com os homens.

- Baraque deveria atrair gente para o monte Tabor, mas a batalha se daria no ribeiro de Quisom, ao pé do monte Carmelo, para onde o Senhor atrairia Sísera e seu exército (Jz.4:7). Enquanto que, para demonstrar disposição para a luta, deveriam os valentes se apresentar no monte, para a batalha, escolheu-se um vale. Devemos nos mostrar como luzes do mundo, mostrar a todos que somos servos do Senhor, mesmo num meio de uma geração perversa e corrompida, mas, no dia-a-dia da luta contra o mal, nos embates, devemos descer no vale, no ribeiro, para que só o nome do Senhor seja glorificado. O servo do Senhor não deve querer aparecer, mas ter, em seu coração, sempre as palavras do Batista: “É necessário que Ele cresça e que eu diminua”(Jo.3:30). Baraque só venceu quando, juntamente com seus soldados, desceu do monte (Jz.4:14).

- Ser corajoso, com se vê, é se manter firme aos pés do Senhor, mostrar-se diante do inimigo, mas jamais atacar ou lutar sem a devida direção divina. Baraque deveria lutar somente após o Senhor ter atraído o inimigo até o ribeiro de Quisom. Devemos, também, nas lutas de cada dia, somente atacar quando e onde o Senhor nos mandar. Resistir ao diabo para que ele fuja de nós exige, antes, que nos sujeitemos a Deus, que sigamos a Sua orientação (Tg.4:7). Jesus, quando enfrentou o diabo, fê-lo porque estava conduzido pelo Espírito Santo (Mt.4:1).

- A vitória de Baraque esteve vinculada à obediência com relação ao momento e ao local indicados pelo Senhor para a batalha. Baraque somente desceu do monte Tabor com seus homens quando Débora lhe disse que era aquele o dia em que o Senhor havia determinado a vitória sobre o inimigo (Jz.4:14). Devemos saber que há um tempo determinado para todo propósito debaixo do céu (Ec.3:1) e devemos estar em perfeita sintonia com o Senhor, para fazer a Sua vontade. Por isso, devemos ter comunicação com Ele, comunicação esta que somente se estabelece mediante a oração, o jejum e a meditação na Bíblia Sagrada. Não é por outro motivo que o Senhor nos ensinou a orar pedindo que a vontade de Deus seja feita na terra como no céu (Mt.6:10).

- Quando Baraque obedeceu ao Senhor e desceu até o ribeiro de Quisom, tem-se que o Senhor agiu, pois, como bem sabemos, embora tenhamos de estar preparados para a batalha, a vitória vem do Senhor (Pv.21:31). A vitória militar era impossível aos olhos humanos, diante da superioridade do exército de Sísera, mas, quando Baraque desceu para o ribeiro de Quisom, este, inexplicavelmente, inundou a região, fazendo com que os carros de Sísera se tornassem um entrave e se criasse uma confusão que foi suficiente para que Baraque pudesse ter vantagem sobre o inimigo (Jz.5:21,22).

- Deus tinha compromisso com o Seu povo, tinha de libertá-lo, mas, para tanto, era preciso que o povo se dispusesse a servi-lO, seja se arrependendo dos seus pecados, seja se dispondo a ir para a batalha. Por isso, Débora, em seu cântico, que é um dos mais antigos textos conhecidos em hebraico, afirma, em primeiro lugar, que se deveria louvar a Deus porque os chefes haviam se posto à frente e o povo se oferecido voluntariamente (Jz.5:2).

- Mas, como havia sido dito por Débora, apesar da vitória cabal conseguida pelo exército de Baraque, Sísera conseguiu fugir e acabou sendo morto por Jael, mulher de Heber, que era queneu, ou seja, descendente do sogro de Moisés, Jetro, povo que veio morar juntamente com os israelitas desde aquele tempo. A honra pela vitória militar, portanto, ficou com uma mulher.

- No cântico em que Débora louva ao Senhor pela vitória, cântico que, como toda obra do gênero no Antigo Testamento, é, na verdade, uma mensagem inspirada pelo Espírito Santo, Débora nos mostra que, enquanto Baraque atraíra os soldados das tribos de Naftali e de Zebulom, a profetisa conseguira o apoio das tribos de Efraim, Benjamim e da meia tribo de Manassés (Maquir, nome do filho de Manassés) e Issacar.

- Entretanto, a meia de tribo de Manassés, que ficava do outro lado do Jordão, Ruben, Dã e Aser não ajudaram na peleja, preferiram manter-se sob a escravidão. A profetisa, em nome do Senhor, censura este povo, que, lamentavelmente, tipifica muitos que, na atualidade, preferem se manter sob o domínio do mal e do pecado a se dispor voluntariamente a lutar contra o inimigo.

- Ruben ficou discutindo se ajudaria, ou não, e, enquanto discutiam, a peleja ocorreu, sem que eles tivessem ajudado. Ruben é o modelo dos indecisos, dos tímidos, daqueles que, por terem receio no seu coração, mostram-se fracos. Estes, como afirma o poeta sacro, não receberão o eterno galardão que o Senhor tem para dar, pois os tímidos ficarão do lado de fora da cidade celestial (Ap.21:8). Jesus repreendeu este tipo de gente, porque não têm fé (Mc.4:40) e, sem fé, é impossível agradar a Deus (Hb.11:6).

- Dã, a meia tribo de Manassés e Aser, por sua vez, em vez da indecisão de Ruben, preferiram desfrutar do que ainda possuíam a se arriscar ante o poderoso inimigo. “Detiveram-se em navios”, “assentaram-se nos portos do mar e ficaram nas suas ruínas”. Estes tipificam aqueles que preferem as bolotas que se atiram aos porcos, as ilusões deste mundo a tornarem a Deus e a se arrependerem dos seus pecados. Encontram-se presos em suas concupiscências e, em virtude disto, amam mais a glória dos homens do que a glória de Deus (Jo.12:42,43). Não querem ser expulsos da sinagoga e, por causa disto, não entrarão no céu. O verdadeiro e genuíno servo de Deus, porém, não busca a glória dos homens (I Ts.2:6), seguindo mais este exemplo do Senhor Jesus (Jo.5:41).

- Também foi alvo de censura pela profetisa a cidade de Meroz, localizada na tribo de Naftali, próxima a Quedes, cidade de Baraque, que, ao contrário dos demais naftalitas, não compareceu para a batalha, demonstrando, assim como as demais tribos, covardia e desatendimento ao chamado do Senhor (Jz.5:23). Meroz foi acremente amaldiçoada, ou seja, duramente amaldiçoada. Esta maldição mostra-nos como é grave e sério desatendermos ao chamado do Senhor, desprezarmo-lO. Como diz o escritor aos hebreus, “…mas o justo viverá da fé e, se ele recuar, a Minha alma não tem prazer nele” (Hb.10:38). Temos atendido ao chamado do Senhor para a batalha contra o mal? Ou temos preferido ver os outros lutar como o povo de Meroz?

- Débora, em seguida, no seu cântico, abençoa Jael e as mulheres, pela disposição demonstrada na batalha, pela forma como habilmente “rachou a cabeça” do inimigo, não dando a mínima chance, a mínima brecha para que ele pudesse subsistir. A bênção foi estendida também a todos os que amam o Senhor (Jz.5:31). Quem ama a Deus? Aquele que faz o que Ele manda (Jo.15:14). Somos alcançados por esta bênção divina feita pela boca de Débora?

- Neste cântico, Débora mostra que era uma mulher de Deus, que o Espírito Santo nela repousava, que se tratava de uma pessoa despertada para as coisas de Deus (Jz.5:12), que não temia falar a verdade e que nem a vitória impedia de considerar as falhas e os acertos de cada um. Era uma mulher com amplo discernimento espiritual e responsabilidade e que sabia bem delinear as responsabilidades de cada um. Por isso, tinha condições de julgar Israel, pois agia com imparcialidade, retidão e justiça.

- Como é diferente o tempo em que vivemos, onde os líderes nem sempre agem sem acepção de pessoas, com retidão e justiça, onde o favoritismo, infelizmente, é uma tônica e um modo de ação característico daqueles que estão à frente do povo de Deus. Que possam eles aprender com Débora que, sem titubear, e sob a inspiração do Espírito Santo, pôs tudo no seu devido lugar, enaltecendo aqueles que, efetivamente, cumpriram os desígnios divinos e repreendendo aqueles que não se conduziram bem na luta contra o inimigo. É esta a função de quem está à frente do povo do Senhor, é esta a função de apascentar as ovelhas: usar da vara e do cajado para que todos os santos possam se aperfeiçoar e chegar à estatura de varão perfeito, à medida de Cristo.

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